A linguística é o estudo científico da língua como um fenômeno natural. É claro que quanto mais avançados forem nossos conhecimentos sobre as características das mais variadas línguas naturais, teremos bem mais consolidado um entendimento do que é a língua em sua totalidade.
A língua é usada pelos seres humanos, num determinado contexto social, para comunicar-se entre si e expor com outros suas ideias, necessidades e emoções. Sendo assim, as experiências vividas numa comunidade podem mudar o comportamento linguístico de um determinado grupo.
No uso da Libras, como no uso de qualquer outra língua natural, há variantes utilizadas pela comunidade surda, caracterizadas por alterações de alguns sinais, no nível fonológico e/ou lexical, o que permite, considerando também influências externas, mudanças na língua, como, por exemplo, a que ocorre com alguns sinais, que apresentavam um alto grau de relação icônica, mas foram transformados para sinais arbitrários, através das restrições fonológicas. Essa mudança contribui para a dinâmica das transformações nas línguas de sinais.
A produção de sinais é observada a partir da percepção visual, respeitando as restrições fonológicas na Libras, restrições estas que se referem ao uso das mãos e do corpo, e do espaço da sinalização de acordo com as propriedades manuais e visuais como maior acuidade visual em contexto de transmissão rápida com a qualidade da interpretação e do tempo.
Assim um exemplo como percebido na pesquisa de Schimitt (2013), que pesquisou sobre a história da Língua de Sinais no Estado de Santa Catarina, registrando, por exemplo, perceber se as variações ocorreram de acordo com a forma que se utilizam e às formas de determinados objetos e/ou coisas. Também ocorreu mudança lexical e mudança fonológica no “falar” dos surdos jovens, adultos e idosos, bem como a presença de variantes dos sinais. Segue alguns exemplos de sinais da pesquisa realizada.
O autor confirma a mudança fonologia do sinal PADRE: os surdos idosos usaram a Configuração Manual “B” posicionada na frente do peito, no espaço neutro, desenhando uma cruz com a mão, apresentando iconicidade e surdos mais jovens usaram para o mesmo sinal a Configuração Manual “U” e/ou “P”. Ao que parece a CM vem da influência do oralismo (palavra PADRE), o Movimento e o Ponto de Articulação permaneceram. Essa variação ocorrida apenas na Configuração Manual pode ser considerada como uma variação ou mudança fonológica.
Por isso podemos desvendar a parte do uso da Libras em Maceió, por meio de indivíduos surdos, em contextos sociolinguísticos distintos, de diferentes regiões, bairros, concentrando-nos nos surdos pertencentes a diferentes faixas etárias, jovens e idosos, de nível escolar diversificado. Há poucas pesquisas sobre as especificidades da variação linguística das Línguas de Sinais para faixa etária.
O objetivo desta pesquisa é analisar e comparar os sinais utilizados por surdos jovens e idosos, na modalidade visual-espacial, existentes na cidade de Maceió. A base teórico-metodológica da pesquisa é a Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972), que concebe a língua como inerentemente heterogênea, assumindo a variação encontrada nas línguas naturais passível de sistematização, conjugando-se fatores linguísticos e extralinguísticos que operam no condicionamento da variação. Mais especificamente, sobre a variação já registrada em Libras, apoiamo-nos nos trabalhos de Diniz (2010) e Schmitt (2013).
O corpus de análise será constituído a partir da seleção de dados do Projeto Inventário nacional da língua brasileira de sinais instituto de investigação e desenvolvimento de política linguística, coordenado pelo Prof. Dr. Jair Barbosa, e desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas.
Referencias
DINIZ, Heloise Gripp (2010). A história da língua de sinais brasileira (LIBRAS): um estudo descritivo de mudanças fonológicas e lexicais, dissertação de mestrado, CCE/UFSC.
LABOV, William (1972). Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. [Padrões Sociolinguísticos. Trad.: Marcos Bagno; Marta Scherre e Caroline Cardoso. São Paulo: Parábola, 2008.]
Língua de Sinais Brasileira (Libras): Um estudo linguístico descritivo a partir da conversa
SCHMITT,D. (2013). A História da Língua de sinais em Santa Catarina: Contextos sócio históricos e sociolinguísticos de surdos de 1946 a 2010. Tese de doutorado. Florianópolis: UFSC
00 comentário em “Variação lexical em Língua Brasileira de Sinais: A variável faixa etária”
Deixe um comentário